Nzinga Mbandi Ngola Kiluanji, nasceu em 1582, no
Ndongo, filha do ngola com uma escrava ambundo. Ainda criança, começou
a ser treinada para o combate e o uso de armas. Com oito anos de idade,
acompanhou o séquito do pai, em uma batalha, como parte dos exercícios de
guerra. Com a morte do pai, em 1617, seu irmão Mbandi tornou-se ngola
ascendendo ao trono de Ndongo.
Por essa época, os portugueses já estavam
estabelecidos na ilha de Luanda onde fundaram a vila de São Paulo de Luanda,
construíram igreja, casas e fortificações. Enfrentaram a resistência dos chefes
angolanos e as doenças tropicais que impuseram pesadas perdas aos portugueses.
Calcula-se que, entre 1575 e 1590, dos 1700 europeus falecidos em Angola, só
400 perderam a vida na guerra; os demais, quase 80%,
Em 1621, chegou a Luanda o novo governador
português que se apressou a buscar a paz com o ngola Mbandi. Para
negociá-la, o rei ambundo enviou a Luanda uma embaixadora – sua irmã Nzinga,
então com 39 anos de idade.
Neste encontro, ocorreu um episódio curioso que
revela a altivez da princesa ambundu. Como o governador a recebeu sentado e não
lhe ofereceu cadeira, Nzinga fez um sinal para uma de suas acompanhantes que se
colocou de quatro no chão para a princesa sentar-se sobre ela. Ao sair, deixou
a moça na sala, na mesma posição, como se fosse um banco. O governador avisou-a
para levar a moça e Nzinga respondeu-lhe que não sentaria novamente naquele banco
pois tinha muitos outros e não o queria mais.
A princesa, inteligente e decidida, deixou claro
que o rei ambundo não era e nem seria vassalo do rei ibérico. Estava ali como
representante de um estado soberano e exigia tratamento de igual para igual.
Para surpresa de todos, Nzinga falou em português fluente. Possivelmente
aprendera a língua com alguns dos mercadores e missionários portugueses que
haviam frequentado a corte de seu pai.
Nzinga exigiu que os portugueses abandonassem
suas instalações no continente, que entregassem os chefes africanos
prisioneiros e ainda um lote de armas de fogo. Em sinal de sua intenção de
celebrar o acordo de paz, Nzinga aceitou o batismo católico sob o nome
português Ana de Souza. A conversão foi um jogo político do qual ela vai se
valer em outros momentos para ganhar confiança e confundir os portugueses.
A ascensão de Nzinga ao trono, em
1623, é rodeada de mistérios. Alguns estudiosos afirmam que ela envenenou o
irmão, outros dizem que o rei se suicidou por decisão dos grandes chefes. Há
ainda a versão de que Nzinga, com a morte do irmão tornou-se regente do garoto
escolhido como novo ngola, mas a criança pouco depois, morreu afogada
no rio Cuanza.
Começava a nascer uma “mitologia Nzinga”. Rainha
enigmática, cujo nome causava terror entre os portugueses, ela deu origem a
lendas e relatos contraditórios a seu respeito.
Desconhece-se sua imagem, não existem retratos da
rainha elaborados no seu período de vida. Uma imagem de 1769, para a obra Zingha,
reine d’Angola, de Jean-Louis Castilhon, mostra a rainha de perfil com um
olhar recatado que nada corresponde ao perfil guerreiro dessa líder política
africana. Usa coroa, colar, bracelete, broche e manta típicos da cultura
europeia. O toque exótico e sensual fica por conta do seio à mostra, como era
comum nas representações de africanas pelo traço europeu cristão. A
imagem aproxima-se da descrição de Glasgow:
Vaidosa quanto às roupas e aparência, trazia na
cabeça a coroa real, com joias de prata, pérolas e cobre a lhe adornarem
os braços e as pernas. Lindos tecidos e roupas eram sua paixão especial e não
perdia nenhuma oportunidade de adquirir novas roupas em estilo europeu dos
mercadores portugueses. Às vezes ela trocava de traje várias vezes por dia,
variando das modas africanas para as portuguesas e vice-versa, até no estilo do
penteado. (…) Quando Nzinga recebia hóspedes estrangeiros, tanto ela quanto sua
corte se adornavam com dispendiosos trajes e joias europeias e havia
farto uso de baixelas de prata, cadeiras e tapetes. Saudava os hóspedes
com o selo real de prata na mão e a coroa na cabeça, ocasionalmente até três
vezes por semana. (Glasgow, p. 95-96)
Costa e Silva apresenta outra descrição de
Nzinga:
“Ela recusava o título de rainha e fazia
questão de ser chamada rei. Por isso que decidiu tornar-se socialmente homem e
ter um harém, com os concubinos vestidos de mulher. Por isso que lutava como um
soldado, à frente do exército. Na realidade, Jinga estava a criar a sua
tradição, a sua legitimidade, os precedentes que permitiriam a suas netas e
bisnetas ascenderem, sem contestação do sexo, ao poder.” (Costa e Silva, p.438)
Em obra recente, Nzingha: warrior queen
of Matamba, de Patricia McKissack, publicado em 2000, o conceituado
ilustrador Tim O’Brien, criou uma nova imagem da rainha ambundo dando-lhe uma
fisionomia bantu juvenil. Ela usa bracelete e colar típicos da realeza bantu,
um cordão de zimbos ou búzios, uma concha utilizada como moeda nos reinos do
Congo, Ndongo e em sociedades tradicionais de Angola. O vestido colante com
grafismos em zig-zag, motivo recorrente na cultura material da África
subsaariana, e o arco e flechas compõem o retrato guerreiro e africano de
Nzinga.
Nzinga reinou absoluta durante quarenta anos sobre Ndongo (1623 a 1663) e, a
partir de 1630, também sobre Matamba. Para enfrentar os portugueses, aliou-se
aos ferozes jagas e desposou um chefe deles.Adaptação da Reportagem do Site Geledes. Disponivel em: http://www.geledes.org.br/nzinga-a-rainha-negra-que-combateu-os-traficantes-portugueses/#gs.x6Jn3QQ
Postado pelo discente Adilson Soares dos Santos
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